terça-feira, 8 de março de 2011

Cisne Negro

Acabo de assistir ao Cisne Negro. Que dizer?



Há tempos não me interessava pelos filmes das últimas safras, exceto por algumas pérolas de gênios como Clint Eastwood. Fora isso, minha pesquisa era sempre pelos clássicos, selecionando para a minha cabeceira aqueles que realmente me impressionaram. E clássicos de outro tempo, de outro cinema, abrindo exceção somente para a minha paixão que é o cinema alternativo, ali onde, por sinal, tenho agido como homem desinteressado.

Cinema! Mas não apenas cinema. A profundidade psicológica explorada com as graças de um Dostoiéviski. Curvas inimagináveis conseguem prender e nos fazer derrapar quando esperamos o óbvio. Cisne Negro. E essa brincadeira dura até o final.

Mais que isso, ainda explora os efeitos especiais brilhantemente, fora de um contexto onde normalmente são vistos. Me lembrou um pouco "O Advogado do Diabo" e "O Labirinto do Fauno". Tudo é o psicológico de Nina, e estamos cada vez mais imersos nela. E isso levanta uma outra questão.

O quanto não somos de Nina, no nosso dia-a-dia? E até que limites iríamos para nos sentir... perfeitos, no nosso papel de ser?

Esse filme me fez pensar sobre isso. Nossos arroubos nos levam a nos projetar para além do que nós somos; mas ao mesmo tempo são eles que nos tornam o que somos. Mas, então, diabos! Dá pra ver o tamanho do paradoxo?

A dificuldade de ser nos leva a um grito desesperado. Kafka, em "O Processo", tem um homem assim. Mudo, não consegue entender porque está sendo julgado, quando na verdade, o juiz era ele próprio. E juízes severos há aos montes. Freud até os apelidou de "superego". No réu de Kafka, é a sua mudez que está sendo julgada. A consciência grita pelo grito que deseja ver. Mas quantos tem coragem de viver isso de peito realmente aberto? E qual é o ponto, qual o limite, tanto das nossas projeções como dos nossos julgamentos? Qual o critério desse juiz não rigoroso? E até onde iremos nós, pra tentar realizar os anseios (realizáveis de fato, ou não) do nosso déspota interior?

Assistam ao Cisne Negro. Reflitam. Aí, sim, parem pra julgar seus próprios juízes.

Carne, não-carne e otras cosítas más


Recentemente, entrei numa discussão muito interessante no meu trabalho acerca de um assunto polêmico: se abster ou não do consumo de carne, e porquê. 

Vou contar a história desde o início: um colega de trabalho, vegetariano convicto, enviou um vídeo pra equipe, muito interessante ideologicamente, mas realmente bizarro e cheio de imagens fortes: estratégia, talvez, de terror psicológico para angariar adeptos à causa? Pode ser. Muitos vegetarianos (assim como alguns religiosos, ecologistas e defensores de posições políticas radicais) possuem esse quê de fanatismo na sua opção (gastronômica, nesse caso, na falta de uma palavra melhor, hehe). Não posso nem afirmar que esse colega seja dessa linha. Mas o fato é que ele mandou o link.  

Enfim. O tal vídeo, de uns dez minutos de duração, tem lá seus atrativos, e conseguiu realmente me deixar bem impressionado em muitos pontos. Primeiro porque o seu apresentador é nada mais nada menos que Paul McCartney, que é vegetariano e defensor da causa. Segundo, por ser um vídeo muito bem elaborado e de idéias muito coesas, e que defende um ponto de vista sobre o qual já tinha ouvido falar mas nunca tinha visto da forma como é mostrado: o sofrimento dos animais que nascem condenados a servir de alimento para nós, a raça superior deste planeta. E bota sofrimento nisso. Pois bem. Some-se isso a um apanhado de imagens chocantes, dados pertinentes (embora tendenciosos) e pluft! - lá estava eu quase como um recém convertido - para o brilho nos olhinhos do meu quase-conversor - e uma certa desconfiança de algumas pessoas em volta.

Nesses entremeios, entrei num debate polêmico com um dos sócios da empresa: ele, defendendo a posição de que aqueles que aderem à dieta vegetariana como forma de protesto aos maus tratos aos animais tem lá o seu grau de hipocrisia - e expôs seus argumentos. E, na verdade, há alguma razão no que ele diz. Muitos dos vegetarianos são mesmo os tais dos bichos-grilos, galerinha paz e amor e (por quê não?) uma ervinha pra relaxar. E essa erva deve ser comprada de algum traficante. E esse traficante, um cara do mal, deve ser o empreendedor de uma série de  pequenas e grandes crueldades, que vão gerar outras e outras, causando enfim sofrimento ao ser humano - que também é um animal. E aí? Preocupação com o sofrimento dos pobres quadrúpedes mas ignorância consentida com o sofrimento dos bípedes pra poder "viajar na onda"? Venhamos e convenhamos, faz sentido.

Argumentos pertinentes, questão lançada, fiquei com isso na cabeça durante quase todo o final de semana. E resolvi analisar e chegar à minha conclusão sobre o assunto, que talvez possa não ser a mais politicamente correta, mas é minha, e como tal deve ser respeitada (liberdade individual e talz). Pois bem. Vou lançar aqui o meu "manifesto sobre o consumo de carne e outros derivados de origem animal":

Em primeiro lugar, a liberdade: come cada um aquilo que quer, não vou ser eu que vai julgar se a dieta é certa ou errada; é uma questão de gosto. Particularmente, já como muito mais peixe do que carne vermelha, afinal meu pai teve um AVC e em grande parte, por causa de stress e alimentação, já que ele não tinha vícios.  Então, ponto positivo para o não-consumo de carne, no caso de preservação da saúde. Moderação, não radicalismo. Mas tendendo a evitar.

Em segundo lugar, a questão do sofrimento dos animais. O vídeo é mesmo foda. Mas ainda assim, meu senso utilitarista fala antes da minha caridade, nesse caso. Não quero comer uma vaca infeliz. Uma vaca que nasceu sofrendo e morreu sofrendo, por mais temperada com sal grosso e vinagrete e talvez um arrozinho, farofinha - nham - acho que pode não me agradar muito. Não seria uma questão de protestar contra. Mas de realmente achar que a qualidade de um alimento desenvolvido nessas condições é que não é boa, e não de achar que a minha atitude vai mudar a indústria e juntos constuiremos um mundo melhor - quem me conhece sabe que não acredito em transformação de fora pra dentro, pelo menos dessa forma. É claro que acho uma sacanagem o que fazem com os bichos também, e a escala preocupante em que isso acontece. Mas na real mesmo, acho que as grandes transformações só podem advir da consciência de cada um em fazer aquilo que acredita, seja isso o que for. Marketing de rede extremista não é muito a minha praia não. O meu problema é comer a vaquinha infeliz.




Claro, quando se toma uma atitude, essa atitude é uma atitude política, queiramos ou não, porque a política é inerente ao ser humano. Mas se eu decidir parar de comer carne, ou por questão de saúde ou por não querer compactuar com alguma prática, essa seria uma decisão muito mais pessoal do que retórica - de vez em quando poderia comer um bife numa boa, e não sei se tentaria convencer alguém de fazer a mesma coisa se eu realmente não observasse, em mim, alguma diferença significante - caso contrário, poderíamos até mesmo discutir animadamente a questão - num sábado, tomando um chopinho distraidamente, lá no Potência Grill.

Cabeça...


...Ombro, joelho e pé. Lembro dessa musiquinha lá dos primórdios do prezinho, e de repente ela me pareceu um algo de uma sabedoria profunda e fantástica: Cabeça, ombro, joelho, pé.


Descobri que eu tinha um corpo. E um corpo que tinha mais do que isso: aquelas partes que não foram citadas e que por muitas vezes são caminhos por onde os anjos não trilham, que nos desatinam, essas portas da percepção, dos caminhos e descaminhos mais profundos e interiores. 
E eu estou longe, muito longe de ser um anjo. Humano, e demasiado, cheio de pequenos tesouros que a minha pá lavra e cata do dia-a-dia. E com os quais me divirto. E que agora compartilho com vocês.
Escrevo esse blog por ter que dizer. E escrevo esse blog por não ter mais o que fazer. 


Quem conhece o QuaseInversoParalelo navega nas confusões e crises existenciais que eclodem no meu universo particular. Mas aqui o espaço é o do cotidiano. Das coisas comuns. Das coisas incomuns. E de uma ou outra opinião mais ou menos polêmica.

Seja bem vindo!